Mata Atlântica: Ecossistema 3 - Mata de Araucárias

A Floresta Ombrófila Mista é um ecossistema da Mata Atlântica popularmente chamado de Mata de Araucária pelo fato de ter grande parte de suas árvores compostas por uma única espécie muito particular: a Araucaria angustifolia, também conhecida como Pinheiro-brasileiro ou Pinheiro-do-Paraná, uma árvore de tronco cilíndrico e reto, cujas copas dão um destaque especial à paisagem. A Araucária é endêmica do Brasil e nossa ilustre representante das coníferas (pinheiros). A sua predominância na Floresta Ombrófila Mista não é aleatória; por ser uma árvore pioneira e heliófila (planta resistente à constante exposição ao sol), a Araucária cresce onde antes não havia floresta e acaba servindo como guarda-sol para que outras árvores, ervas, fungos, musgos e liquens cresçam à sua sombra e proteção. Além disso, é uma árvore muito resistente ao frio e pode viver até 700 anos, alcançando o diâmetro de dois metros e uma altura de até 50.
Está presente em regiões nas quais predomina o clima subtropical, ou seja, regiões que apresentam invernos rigorosos (com geadas freqüentes e até mesmo neve) e verões quentes, com volume de chuva relativamente elevada e bem distribuída durante o ano - daí o motivo da palavra Ombrófila (amiga das chuvas) em sua nomenclatura.


Localização

A Floresta de Araucária, na época do descobrimento do Brasil, se estendia numa faixa que ia do sul do estado se São Paulo até o norte do estado do Rio Grande do Sul. Cobria cerca de 185.000 km2 da região Sul do Brasil - 37% do estado do Paraná, 31% de Santa Catarina e 25% do Rio Grande do Sul, unidas numa grande área contínua. Dá para imaginar as imensas florestas de Araucárias que os Europeus encontraram por aqui?
Estava presente, também, em manchas dispersas pelas regiões serranas de Minas Gerais,  São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, nas partes elevadas das Serras do Mar, Paranapiacaba, Bocaina e Mantiqueira, sendo a árvore símbolo desta última.
Hoje restam apenas 3% da cobertura original, espalhados em pequenos fragmentos.

Em verde escuro, a cobertura original da Mata de Araucárias antes da chegada dos Europeus 



Flora

A Araucária constitui o andar superior da floresta, com o sub-bosque bastante denso. Neste são identificadas espécies como imbuia, canelas, cedro, ipês, sassafrás, pinheiro-bravo, guabiroba, pitanga, erva-mate e xaxim, algumas das quais endêmicas e muito ameaçadas.





A Fauna e o Pinhão


Um dos pratos típicos das festas juninas no Sul e Sudeste, o fruto da Araucária é conhecido como pinhão. Cada Araucária produz, no mínimo, 50 kg de pinhões por ano e alguns podem passar de 100 kg. Este também está no cardápio obrigatório da fauna do ecossistema. O pinhão é a principal fonte de alimento no inverno, quando quase não existem outras frutas disponíveis nos ambientes de clima subtropical e temperado úmido brasileiros; além de ser uma alimento bastante nutritivo. Por isso é procurado por ratos-do-mato, cotias, pacas, capivaras, ouriços, e muitas aves, entre as quais se destacam o papagaio-charão e a gralha-azul.
Esta última é de fundamental importância para manutenção da Mata de Araucárias. Pois ao se alimentar de pinhão e transportá-los durante o voo, muitas vezes derruba-o no solo. Isso permite que uma árvore nova germine longe de sua árvore mãe, o que fortalece o material genético da espécie. A gralha também deposita o pinhão em esconderijos como fendas em troncos de árvores, onde estes acabam germinando também.





História

A Araucária é uma árvore pré-histórica; coexistiu com os dinossauros. O gênero Araucária já existia no Triássico, porém a nossa araucária angustifolia surgiu no final do período Jurássico, há 200 milhões de anos. Ela sobreviveu à extinção dos largatões. E o mais interessante é que nessa época ela era encontrada apenas na região Nordeste do Brasil. Só recentemente, por volta de 10 mil anos atrás, que esta espécie de árvore se expandiu para o sul do país, provavelmente devido à alteração climática após fim da era do gelo. Essa expansão foi realizada através de migração da flora nos vales mais baixos, seguindo o curso dos rios, enquanto no restante da região predominava a vegetação herbácea. De acordo com o aquecimento do globo terrestre as tímidas florestas de araucárias forma se expandindo para regiões mais altas, nas montanhas e planaltos, até adquirir as feições que tinham quando os europeus aqui chegaram.


No inicio do século XX, nos estados do sul, houve o estimulo para o aquecimento da economia local através do corte das Araucárias e exploração de sua madeira. O problema é que a Araucária produz a melhor madeira branca, de fibra longa, da flora brasileira. É leve e sem falhas,  ideal para vigamentos em construções e qualquer uso em locais não expostos à chuva. A árvore demora cerca de 16 anos para produzir boa madeira. É um curto período de crescimento, principalmente se for comparado ao dos pinheiros europeus, que levam cerca de 50 anos para atingirem esse desenvolvimento.
A floresta atingiu quase o se total esgotamento em meados do século e os donos das serralherias que começaram a falir passaram, então, a se envolver em atividades agropecuárias tão danosas para o ecossistema quanto a atividade madereira.


Situação Atual


 “A Araucaria angustifolia, é uma das espécies mais antigas da flora brasileira, passou por diversos períodos geológicos, foi submetida às mais drásticas mudanças climáticas, conviveu com invasões e retrações marinhas, extinções de seres, mas no curto tempo de duas gerações humanas, não está resistindo às queimadas, ao fio de machados e motosserras, disputas de ter­ras, ausência de políticas públicas estratégicas, e a imperiosa cultura humana de domínio e pos­se” ( Koch & Correa, 2002).

Hoje, a Araucaria angustifolia é quase uma relíquia em meio a destruição humana. Além disso, a violação da mata afugentou uma gama de espécies animais que ali viviam como onças pintadas, tamanduás, tucanos, entre outros.

Atualmente apenas 1,2% de sua cobertura original encontra-se preservada, e somente 0,22% (40.774 hectares) está sob a proteção de unidade de conservação (UC).
O desmatamento também acelera a perda da variabilidade genética das Araucárias, o que enfraquece a espécie. Para agravar, os madeireiros ilegais entram na mata e retiram as melhores árvores - maiores e retilíneas - e deixam apenas os indivíduos inferiores (quando deixam). As árvores descendentes vão se tornando cada vez menores, mais frágeis. Há projetos importantes de clonagem de Araucárias através de matrizes de indivíduos superiores (maiores e mais fortes) para produzirem melhores descendestes, mas esse processo leva muito tempo e recurso.

O fato é que a Floresta Ombrófila Mista está caminhando para a extinção, e se não forem criadas unidades de preservação imediatamente, aliando-as com projetos de replantio e clonagem, a Serra da Mantiqueira e o Paraná correm o risco de perder seu símbolo e o melhor adorno de suas paisagens. E a humanidade ficará sem esse belíssimo ecossistema.




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Sobre o autor: Família, amigos, florestas, montanhas, praias, bichos, música, aventura, antropologia, história, ciência, literatura, audiovisual e, lá no fundo, talvez o João. ProjetoEntreSerras

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